O Dia do Abandono

O Abandono Diário...

Nas noites de Campos, perambulando pelos bares e botequins, existe um garoto chamado Paulo Vítor. Não se sabe ao certo (ele não diz), mas não tem mais do que seis ou sete anos de idade. Paulo Vítor vende amendoins todas as noites nas ruas de Campos. Sozinho. Anda com os amendoins e com o dinheiro. Sozinho, no meio do mundo adulto da noite.

Para vender, ele abusa. Imita a dança do Michael Jackson, canta músicas e sobe no colo das pessoas e nas garupas das motos. As pessoas costumam achar bonito, mas se esquecem que, no horário onde UM GAROTO DE SEIS OU SETE ANOS, ESTÁ TRABALHANDO, ele deveria estar, no mínimo, revisando a lição de casa.

Como ele, há dezenas de crianças, perambulando pelas praças, bancos, ônibus e ruas, vendendo amendoins, mariolas, chicletes jujubas e outras coisas para ajudar aos pais, que muitas das vezes estão por perto, supervisionando o 'trabalho' dos filhos. Não se pode caminhar pelo centro sem ser abordado por CRIANÇAS QUE DEVERIAM ESTAR NA ESCOLA, MAS ESTÃO TRABALHANDO PARA PAIS, QUE CARREGAM OUTROS FILHOS NA BARRIGA, ENQUANTO SUAS CRIANÇAS SE HUMILHAM DIANTE DE ESTRANHOS.

Há milhares de Paulos Vítor por aí. A promoção social não vê, o juizado da infância e juventude não vê, o povo na rua não vê, pois eles já estão incorporados à paisagem feita e desolada da cidade, são só mais um pedaço do bolo podre.

Garantindo o sustento de uma família pobre por um Real...