23/05/2005

Nada a Ver

Essa semana, ao aguardar uma médica que eu iria entrevistar, li um artigo na revista Época no qual o autor dizia que gostava do Big Brother. Uma das justificativas que ele apresentou para falar que gostava do programa é que ele não tinha enredo, os produtores e editores conseguiam criar uma história “do nada”. Os participantes não faziam nada de emocionante, sua estada na casa era o mais absoluto tédio, e que os editores transformavam toda aquela banalidade tediosa em história, em algo com algum sentido, em algo que dava pra se entender.
Venho eu agora dizer que: Ok, eles criam uma história do nada, trazem sentido para uma coisa sem sentido, mas qual o valor daquilo que eles criam? Até que ponto, essa “mágica” cria algo que possa adicionar algo para quem está assistindo? Será que o “objeto” criado tem algum valor prático, ou ele só tem um sentido e mais nada?
Questiono isso, pois a qualidade do que se coloca hoje na tela da televisão brasileira é algo sofrível. Os programas não servem para colaborar para uma melhor formação da população, e não ajudam as outras instituições (escola, família) a dar uma melhor formação para os jovens. Reconheço que essas mesmas instituições estão sucateadas, e talvez esse seja um dos motivos pelos quais a população não encontre razão para fazer uma análise crítica daquilo que assiste e engole todos os dias. Sinceramente já perdi as esperanças de que isso irá mudar algum dia, hoje vivo na base do “salve-se quem puder”.
Como um estudante de comunicação, futuramente poderei trabalhar em uma emissora de TV, que contará com meus serviços para continuar com essa política do “nada a ver” e aí então rezarei para que eu possa fazer alguma diferença e não seja engolido por esse sistema que hoje eu condeno.
Até lá, sigo com a TV desligada.

09/03/2005

Desespero Materno

Elisabete olhou o livro e começou os preparativos, havia uma semana que ela estava com vontade de comer bolo de cenoura. Colocou todos os ingredientes na mesa e começou os preparativos. Dividiu habilmente as xícaras de açúcar, óleo e farinha. Porém, ao procurar o achocolatado, percebeu que o estoque da casa havia acabado. Gritou então por seu filho, Pedro, para que ele pudesse ir buscar o ingrediente que faltava. "Pedro!". Não ouviu resposta. "Pedro, vem cá" Nada. "Pedrooo, vem cá, você também não presta pra nada hein!".Novamente o silêncio. Já nervosa, ela se dirigiu ao quarto do garoto para repreendê-lo pessoalmente. Abriu a porta violentamente: "Pedro! Você não tá me ouvin..." E caiu de joelhos com o que viu. Lá, no chão, estava Pedro, caído, com o pescoço coberto de sangue e os pulsos também. Ele não se mexia, não respirava e não parecia que iria fazer nada disso nos próximos segundos. Elisabete estava em prantos e se arrastou até ele, o tomou nos braços e gritava em desespero, sem entender o que aconteceu. Quando, de repente, Pedro abriu um olho e deu um sorriso. Olhou para sua mãe e começou a rir. Elisabete ficou muda e se levantou. Ficou muda de cólera. Pedro ria e dizia: "Calma mãe, foi só uma brincadeira! Você precisava ver a sua cara!" Elisabete em silêncio pegou uma pedra que enfeitava a escrivaninha do quarto de seu filho e bateu com toda violência na cabeça, acertando-lhe na têmpora. Pedro caiu no chão como antes, mas dessa vez o sangue que escorria pelo chão era real. Elisabete olhou a cena de seu filho caindo em câmera lenta e assim que ele atingiu o chão, continuou a chorar exatamente do ponto aonde havia parado, como se tivesse apertado o botão de pause e correu para a sala. Pegou o telefone e discou para a emergência: "Alô, é da emergência, meu filho sofreu um acidente, manda alguém, depressaaaaa!!!"

16/01/2005

Mr. Jones

Quem aí gosta de sair á noite? Quem é que gosta de enfrentar uma balada e zuar pra caramba? E quem aí curte boate, festas e tudo o mais. Aposto que muitos, mas agora vamos atentar para um fato que sempre está presente nessas situações, até por que ele é a síntese dessas situações, ele é a essência.
Isso sobre o que estou falando é “Mr. Jones”, isso mesmo, aquela música dos Counting Crows, aquela que você conhece bem e, mesmo se não conhecer de nome, quando ouvi-la vai dizer: “Ah, é essa? Essa eu conheço!”. Pois bem, quem for atencioso vai notar que em toda festa, toda balada, toda discoteca “Mr. Jones” está presente. Não adianta correr. Como já foi dito antes, ela é a síntese da festa, o acontecimento da festa, você duvida? Basta ir a uma festa (qualquer uma serve mesmo!) e ficar atento no momento certo. Quando começar aquela introdução com aquela guitarrinha e o tradicional “shalalalalalalaaa” acontece então uma convergência de emoções e de sentimentos. No mesmo momento como se fosse um ritual de afirmação da identidade, todas as patricinhas do local olham uma para a cara das outras e gritam: “Hhuuuulllllll!!” com os dedos indicadores apontados para o céu. E aí começam a dançar mais do que antes. Na verdade todas as outras canções são coadjuvantes se comparadas a Mr. Jones, pois ela rouba toda a empolgação e energia dos presentes. E o que falar dos homens? Justamente em Mr. Jones eles se aproveitam para se desinibir e sair rebolando para perto de alguma garota e dançar bem pertinho enquanto profere palavras de conquista no seu ouvido. E aí toda a festa se anima mais e todos dançam mais, todos se beijam mais e tudo “vira mais festa”.
Alguns ainda aí podem nunca ter reparado nisso, mas aposto que agora todos irão notar, que essa musica faz libertar aspectos grotescos da alma jovem. Enquanto houver festas haverá também Mr. Jones, ou será o contrário?