11/09/2007

Notas

“Sempre quis fazer parte de algo grande. Ao mesmo tempo, sempre admirei a beleza de uma vida simples, que não trazia grandes responsabilidades e nem nada que tomasse muito o meu tempo. Não penso no futuro, apenas aguardo o momento de mexer, fazer com que meus movimentos fizessem diferença para alguém, que quisesse me pinçar no meio da multidão. Mas sou apenas humano e me dói um pouco saber que nada posso fazer para mudar certo tipo de coisas, como por exemplo o seu comprometimento em relação a mim. Mas me senti grande enquanto estive com você, enquanto a gente podia conversar de mãos dadas. Parecia que tinha mais coragem de fazer as coisas, mais coragem de mudar o mundo, sei lá. Parecia que realmente eu fazia parte de algo grande. Grande pra mim. Mas agora é tarde e me sinto muito pequeno, pequeno demais para fazer alguma diferença para alguém e para ser notado. Pequeno desse jeito, vou acabar sendo pisado pela multidão, que se arrasta e não dá valor às coisas individuais e pensativas como eu.”

Com carinho, James

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— Na última vez que te vi você estava com um olhar tão tristinho. Queria que soubesse que a culpa não é minha. Na verdade, eu não sei bem o que aconteceu. Eu estou numa fase da vida que nunca tive antes. Não estou conseguindo me dedicar às coisas como gostaria. Estou mais dedicada a outro tipo de coisas, como os estudos e aos amigos. Você sabe que poderemos ser amigos. Bons amigos. Uma hora você vai encontrar uma pessoa legal, que te faça feliz. Existe tanta gente no mundo. Tanto para conhecer. Você também tem bons amigos e sempre se divertiu com eles. Sugiro que saia mais com eles, pelo menos por enquanto, para ver se esquece um pouco essa situação. Eu estou bem, mas às vezes ainda penso no que aconteceu. Por enquanto, acho melhor ficarmos afastados por um tempo, pelo seu próprio bem.

Ainda sua amiga, Lucille

PS: Depois lhe devolvo seus CDs.
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Memorando número 145/07

Prezado senhor James Carriolo

Comunica-lhe o Departamento de Recursos Humanos, por meio deste, que o senhor está oficialmente desligado de suas funções de auxiliar administrativo da Finhall Associados. O motivo se dá pela falta injustificada a duas semanas de trabalho. Solicita ainda o comparecimento ao RH para acerto de contas e desligamento.

Atenciosamente

Anthony Marshall, Gerente de Recursos Humanos

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Instituto Médico Legal
Laudo 1547/07


O médico legista, William Bakes, constata, após necropsia realizada no dia 06/11/2007, que o indivíduo do sexo masculino, identificado através de documentação como James Carriolo, de 23 anos, foi morto com uma bala de revólver calibre 38 que furou seu crânio e destruiu grande parte de seu cérebro. Ao que indica o relatório policial, o ferimento foi auto-infligido, tendo a vítima morrido cerca de 5 (cinco) minutos após o recebimento do ferimento.

Ratifico
William Bakes, Médico Legista

2 comentários:

Nina Maria disse...

A maior impressão sobre o conto, guardarei para mim e falarei em outra ocasião, pois sinto que o local não é adequado para tal observação.
Muito bom, quase script de um curta.
Beijos, e vc captou bem a intenção psicodélica.

Anônimo disse...

Bom, acho que já te disse o que achei do conto e que chorei lendo né!?
Só pra ratificar, hehe
Não deu pra comentar quando eu li, mas agora voltei!
Cara, investe nesse estilo... tem mt criatividade e enriquece a leitura!!

=*********

Muuito bom mesmo!!