Chuva pra você

Ao sair de mais um período de aulas na faculdade, velha faculdade, eu encontro-me num bar com amigos, onde colocamos nas mesas as mazelas da vida. Entre uma cerveja e outra (melhor dizer entre duas e muitas), percebemos que uma forte chuva se abate sobre o local, entoando uma música de fundo sobre nossas reclamações. Quando todos já se vão, me preparo para deixar amigos em casa, já que a chuva já deu uma trégua. Seria agora uma música de despedida? De fim de noite?

Pego carona no guarda-chuva. Carros sacanas se apressam em passar pelas poças d'água e molhar pedestres. Ao deixar amigos em casa, sigo sozinho meu rumo pelas ruas alagadas e enlameadas, debaixo de mais chuva. Enquanto caminho, a cabeça vai ficando vazia, fria, longe de lembranças que podem machucar. Cabeça e coração já não podem mais se falar, dá briga. É quando a chuva, que começa a cair mais fina e suave, assopra algo em meus ouvidos cheios d'água. Ela me lembrou alguém.

Me lembrou de mulheres latinas, me lembrou de calças vermelhas de ginástica, me lembrou de sua voz risonha e as trocas de frases na tela fria do computador. Admiração, acho que é essa a palavra. Pode ser alguma outra também. Sua reclamação 'Uma vergonha...' soou como uma ordem, para eu voltar, não deixar de escrever, voltar a (tentar) ser como era antes.

Ela conseguiu. E a chuva cantou baixinho nos meus ouvidos até chegar em casa. Nessa noite eu fui uma fênix ao contrário. Em vez de renascer do fogo, renasci da água da chuva e de seu apreço por umas besteiras quaisquer.
Agora só resta uma dúvida: Como é que se agradece a chuva? Porque acho que o seu agradecimento já foi expresso aqui, neste humilde espaço.

Dedicado à Maria de Mim